As seis raízes da inovação para o nosso tempo
No Innovation Roots, acreditamos que a verdadeira inovação surge ao cultivar novas raízes que nos guiem na transição para um mundo regenerativo. Exploramos seis grandes paradigmas a serem rompidos, substituindo-os por 6 raízes fundamentais que sustentam essa transformação. Cada uma dessas raízes se interconecta e se permeia, criando um ecossistema de inovação holística. Para fins de pesquisa e aprofundamento, delineamos cada raíz individualmente, mas seu impacto é compreendido de forma integrada e interdependente.
1 . Do Crescimento à Prosperidade
A prosperidade transcende a simples ideia de crescimento econômico, significando condições de vida próspera não apenas para a humanidade, mas para todas as formas de vida. Em vez de buscar crescimento e acumulação individual, focamos em ser melhores coletivamente, pois compreendemos que todas as partes do ecossistema da vida estão interconectadas. A prosperidade é distribuída, beneficiando toda a teia da vida, onde a competição dá lugar à colaboração. Em vez de concentrar recursos e poder, promovemos a distribuição mais justa e equitativa, criando uma base sólida para um futuro compartilhado.
Inspirados pela Economia Donut, de Kate Raworth, entendemos que o desenvolvimento deve respeitar os limites planetários enquanto assegura que todas as necessidades humanas básicas sejam atendidas. Este modelo integra considerações sociais e ecológicas, buscando um equilíbrio onde a prosperidade não vem à custa do planeta.
Reconhecemos que a verdadeira riqueza vai além do capital financeiro, englobando uma rede interconectada de recursos que juntos contribuem para o bem-estar holístico. Esse é o convite de Ethan Roland ao propor a visão das 8 formas de capital: financeiro, material, natural, social, intelectual, experiencial, cultural e espiritual. Prosperar é permitir que todas essas formas de capital se desenvolvam harmoniosamente, assegurando que todas as pessoas e espécies possam florescer e frutificar.
2 . Da Exploração à Regeneração
Para alcançar a verdadeira inovação, é essencial abandonar a exploração desenfreada e adotar práticas verdadeiramente regenerativas. Em vez de apenas compensar nossa pegada de carbono, devemos revitalizar o meio ambiente, eliminando resíduos que contaminam terra, água e ar, afetando toda a vida. No conceito Berço ao Berço, cada resíduo se torna um valioso nutriente, reintegrado em um ciclo contínuo e (re)produtivo, origem do que conhecemos por economia circular, onde nada é desperdiçado e tudo é reaproveitado, promovendo um ciclo de vida tanto sustentável quanto regenerativo.
Embora estejamos no início da jornada rumo à sustentabilidade (2ª etapa) e ambicionando a regeneração (3ª etapa), a verdade é que ainda estamos na 1ª etapa, de exploração; com 50% do plástico produzido sendo destinado ao uso único e uma realidade de produção e consumo desenfreados. Um exemplo é os Estados Unidos, que utilizam cinco vezes mais biocapacidade do que a Terra pode oferecer. Para progredir para um modelo regenerativo, devemos não apenas reflorestar o planeta, mas também regenerar nossas próprias ideias e conceitos, buscando uma relação harmoniosa com a Natureza, da qual dependemos inteiramente.
Ao avançarmos nesta jornada, entendemos que a regeneração não é apenas um objetivo, mas um caminho contínuo de aprendizagem e adaptação. Precisamos transformar nossas práticas diárias e nossas políticas tanto locais quanto globais, para criar um futuro onde a regeneração seja a norma. Ao fazê-lo, promovemos um ambiente saudável e resiliente que sustenta todas as formas de vida, garantindo que as futuras gerações herdem um planeta vibrante e próspero.
3 . Do Lucro ao Significado
A inovação orientada pelo significado prioriza o bem-estar não só das pessoas, mas de todas as formas de vida. Em vez de medir sucesso apenas pelo lucro aos acionistas, buscamos reafirmar o valor da qualidade de vida proporcionada e a satisfação das necessidades de todo o ecossistema. Um ótimo exemplo é o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), adotado pelo governo do Butão, que questiona a lógica do Produto Interno Bruto (PIB) e seus aspectos puramente econômicos. A qualidade de vida e a felicidade são intrínsecas, refletindo uma abordagem holística.
No contexto das empresas, além das métricas financeiras, devemos integrar indicadores ambientais, sociais e de governança (ESG), reforçando nosso compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social, reconhecendo a Natureza e a Vida como stakeholders fundamentais. Compreender as diferentes formas de riqueza, além dos aspectos financeiro e material, nos oferece uma visão mais ampla dos conceitos pré-estabelecidos e aprofunda nosso entendimento de valor, promovendo um balanço positivo que beneficia todos os seres.
A sabedoria cultural dos povos antigos, que vivem de maneira simples e comunitária, nos ensina a promover um maior senso de comunidade e felicidade, combatendo a depressão e o individualismo tão latentes atualmente. Negócios transformadores são aqueles que criam impacto positivo, proporcionando significado e propósito além dos ganhos monetários. Eles inspiram um modo de vida onde a prosperidade é medida pela harmonia e bem-estar de toda a comunidade, humana e não humana.
4 . Do Ensino à Aprendizagem
Transformar nossa abordagem de ensino em uma cultura de aprendizagem contínua é fundamental para a inovação. O modelo de educação atual ainda carrega princípios da revolução industrial, acentuando o distanciamento dos desafios contemporâneos, o que Otto Scharmer, criador da Teoria U, denomina as três grandes montanhas divisórias: Divisão Ecológica (Eu ≠ Natureza), Divisão Social (Eu ≠ Outro) e Divisão Espiritual (Eu ≠ Eu).
Não superaremos os desafios do século 21 com a mentalidade do século 20 e instituições do século 19. A educação deve se transformar para desenvolver pessoas confiantes, compassivas e resilientes, capazes de questionar o mundo e agir no mundo. José Pacheco, renomado educador português, enfatiza que a construção de um novo modelo de aprendizado é necessária para tornar a educação significativa. Ele questiona onde estão a autonomia e o protagonismo se é o professor quem decide o que os alunos vão aprender. Inspirado em Paulo Freire, Pacheco afirma que o aprendizado deve ser centrado na relação, não no aluno isoladamente.
Nesse contexto, o papel de professor evolui para facilitador, guiando o processo de descoberta e (auto)aprendizagem. Em vez de apenas transmitir informação, cultivamos conhecimento através da experiência, promovendo um (auto)conhecimento profundo e aplicado. Isso capacita pessoas como agentes de transformação, convertendo nossa força de trabalho em uma força de mudança, capaz de inovar e adaptar-se continuamente, impulsionando uma evolução constante e significativa.
5 . Da Tecnocracia para a Empatia
A espécie humana é única em sua capacidade de criação, desde o domínio do fogo, a invenção da roda, até o desenvolvimento da escrita, da agricultura e dos avanços científicos e tecnológicos. Embora essa evolução tenha trazido muitos benefícios, também gerou efeitos colaterais significativos. Os impactos negativos não se devem apenas à ganância e competição, que moldam nossa cultura há séculos, mas também ao fascínio pela tecnologia, que tem nos desumanizado e nos afastado da natureza.
A Natureza é a nossa tecnologia mais antiga e primordial, sendo a fonte de todas as demais inovações, incluindo a ciência, computação e engenharia. No entanto, nos distanciamos da Natureza, esquecendo que a tecnologia científica e suas derivações devem servir à humanidade e a todas as formas de vida, e não o contrário. Vivemos em um mundo onde 2,6 bilhões de pessoas não têm acesso à internet, 2 bilhões não possuem saneamento básico e 1,4 bilhões de adultos não têm serviços bancários. O lema “ande rápido e quebre coisas”, promovido pelas big techs, não pode prevalecer quando o que está sendo destruído são vidas e ecossistemas.
O frenético avanço das tecnologias computacionais, como redes sociais e inteligência artificial, levanta questões éticas e de responsabilidade que precisam ser dialogadas coletivamente. Desde o estímulo excessivo ao consumo, o aumento da depressão e do isolamento, até problemas como racismo algorítmico, deep fakes e violação de propriedade criativa e intelectual. A inovação tecnológica deve estar a serviço das necessidades humanas e planetárias, integrando todas as vozes e respeitando a diversidade. A dominação deve ceder lugar à inclusão, e o poder deve ser exercido com as pessoas, não sobre elas. Tecnologias desenvolvidas com empatia priorizam o bem-estar coletivo, assegurando que o progresso técnico esteja alinhado com valores humanos e sustentáveis.
6 . Da Razão à Consciência
Se a história da Terra fosse representada em um ano, a humanidade teria duração de apenas 6 minutos. Em tão pouco tempo, acreditamos ser capazes de subjugar a Natureza e nos colocar no centro do universo, um conceito conhecido como Antropocentrismo.
Giles Hutchins e Laura Storm, autores de "Liderança Regenerativa", chamam isso de “a grande separação”. Satish Kumar, renomado ecologista e pacifista, destaca que a saúde das pessoas está intrinsecamente ligada à saúde planetária. Ele propõe substituir a trindade Mercado, Moeda e Materialismo por uma nova trindade: Solo, Alma e Sociedade. Essa nova trindade enfatiza o conceito sistêmico de salutogênese, onde bem-estar individual depende de atributos de bem-estar coletivo.
Para uma inovação verdadeiramente consciente, precisamos expandir nossa visão além da razão, adotando uma perspectiva holística e interconectada. Reconhecemos que somos parte de um todo maior, onde a Natureza ocupa um lugar central e o Antropocentrismo é substituído pelo Biocentrismo. Adotamos uma abordagem ecossistêmica de design, que integra aspectos materiais, sociais e espirituais, promovendo um entendimento profundo e sagrado do mundo. A inovação (auto)consciente reconhece nosso impacto e nosso papel em toda a teia da vida, guiando-nos a agir de maneira responsável e compassiva.
Através do Innovation Roots você terá acesso a conteúdos aprofundados sobre cada uma dessas 6 raízes, com reflexões inspiradoras e exemplos práticos. Apesar de dividirmos cada raíz em um tema principal, elas não são elementos isolados, mas se interconectam e se influenciam mutuamente. Nosso objetivo é auxiliar nessa jornada transformadora, explorando como cada paradigma pode ser rompido e substituído por consciência e práticas mais sustentáveis e regenerativas, que beneficiam toda a teia da vida. Junte-se a nós nessa caminhada rumo ao futuro que queremos.
Referências citadas:
Fontes de dados: