Capítulo 01:
Tudo é Natureza
Você já parou para pensar que tudo o que somos e temos vem da Natureza?
Justamente. Não há nada nem ninguém neste mundo que não faça parte dela.
No imaginário coletivo, o termo inovação está diretamente relacionado à revolução tecnológica.
No entanto, nem mesmo os produtos e inovações com a mais alta tecnologia embarcada estão dissociados da Natureza, sejam os ultramodernos smartphones, os carros elétricos e autônomos, as diferentes fontes de energia, a internet, a blockchain, o 5G ou a realidade virtual.
Tudo, exatamente tudo, está inserido na Natureza.
O “Salar de Uyuni”, na Bolívia, é o maior deserto de sal do mundo
e um importante centro de exploração de Lítio globalmente.
O metal é um componente essencial da revolução tecnológica, usado nas baterias de notebooks, smartphones, smartwatches, carros elétricos e de outros dispositivos portáteis.
Da Natureza ao nosso cotidiano: o ciclo do Lítio
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Enquanto a população indígena Aymara colhe e vende sal com crosta na superfície do Salar de Uyuni, o lítio muito mais lucrativo é dissolvido em salmouras encontradas no subsolo. (Figura 1) Atualmente, os maiores produtores de lítio são: Austrália, Chile, China, Argentina, Zimbabwe, Portugal, Brasil e Estados Unidos.
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As piscinas de evaporação construídas no Salar de Uyuni criam um mosaico colorido na planta piloto de lítio Llipi. A salmoura rica em lítio é bombeada de até 20 metros abaixo da superfície para dentro das piscinas. Na etapa de evaporação o lítio é separado da salmoura e depois passa por processos químicos, em um período de produção que dura de 8 a 18 meses. (Figura 2)
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Bem longe da Bolívia, em uma fábrica em Bruxelas, na Bélgica, um trabalhador examina a bateria de íon-lítio que alimentará o Audi e-tron, um SUV elétrico. A bateria refrigerada a líquido é composta por módulos separados integrados no piso do carro. O aumento das vendas de veículos elétricos estimulou um aumento significativo na extração de lítio. (Figura 3)
Da Natureza ao nosso cotidiano: de onde vem o cloud.
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A Islândia é a primeira nação a usar mais eletricidade na mineração de criptomoedas do que em suas residências, graças, em parte, à sua ampla gama de energia renovável. Quase toda a eletricidade do país é produzida usando fontes renováveis, sendo 73% de usinas hidrelétricas e 26.8% das estações geotérmicas. (Figura 1) As empresas mineradoras de criptos se instalam em locais com alta geração de energia renovável, utilizando a sobra de capacidade, que muitas vezes seria desperdiçada, reduzindo assim o seu custo. Além disso, os climas frios diminuem a necessidade de energia para refrigeração de servidores.
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Outro caso interessante é o da Microsoft, que através do Project Natick, testa o uso de data centers submarinos nas Ilhas Órcades, ao norte da Escócia, também conhecida pela sua vasta fonte de energia limpa - eólica e de ondas oceânicas. (Figura 2) Os testes revelaram que os servidores no datacenter subaquático são 8X mais confiáveis do que aqueles em terra, por estarem em clima mais estável, refrigerado e sem interferência humana. Segundo a Microsoft, não há impacto na vida marinha e todos os componentes da solução são recicláveis. Um cenário promissor para nuvens descentralizadas, mais eficientes e de menor impacto ambiental.
Mas, se tudo é Natureza, onde nos encaixamos neste contexto, como seres humanos?
A palavra humano tem sua raíz no latim humus, que significa terra.
Somos, literalmente, seres da terra.
Homem deriva do latim “homo”, vindo do termo “humus", que é a parte viva e orgânica do solo. A título de curiosidade, ainda, temos no substantivo hebraico “adamá”, que significa solo/terra, a origem do nome Adão, ancestral da humanidade, segundo a tradição judaico-cristã.
Nos lugares onde jaziam os corpos mortos surgia um solo escuro, negro, mais fértil e propício à vida – humus. Ao solo negro e fértil às margens do Rio Nilo os antigos egípcios chamavam de “Chemi”, mesma palavra com que designavam sua pátria.
Os gregos pegaram a palavra emprestada e dela vem a “química”. A origem dos elementos e da vida claramente associada ao solo negro e fértil, às substâncias húmicas.
Curiosamente, as palavra “humildade” e “humanidade”, assim como “homem”, têm suas profundas raízes em “humus". O desinteresse pelo mundo natural e pelo solo parece de certa forma representar a perda da humildade do homem, a perda de suas origens.
Opostos às nossas raízes, estamos em maior comunhão com as máquinas.
As revoluções industrial e tecnológica ofuscaram o papel da Natureza no contexto da humanidade, das comunidades e das organizações.
Ao se dissociar da Natureza, o ser humano se auto-elevou a categoria de Deus, entendendo que através da criatividade e da transformação, poderia também dominar e explorar recursos, outras espécies e a si mesmo.
Podemos inovar infinitamente desde de que não vamos contra o ambiente em que estamos inseridos, contra nossa própria natureza.
Referências:
(1) Ciclo do lítio:
Lithium is powering today's technology—at what price? • National Geographic • Imagens por Cédric Gerbehaye;(2) De onde vem o cloud (Islândia):
How Iceland became the bitcoin miners’ paradise • The Guardian;(3) De onde vem o cloud (Datacenters submarinos):
Microsoft finds underwater datacenters are reliable, practical and use energy sustainably • Project Natick • Imagens por Jonathan Banks;(4) Explicação etimológica de Homem e sua relação com o Solo:
A humilde origem do homem no solo • Unicamp • Por Italo R. M. Guedes