Ensinamentos do Yoga sobre ser uma pessoa melhor, mais criativa e inovadora
Desde os primeiros anos escolares fomos estimulados a competir, todo nosso sistema foi moldado para separar os melhores dos piores através de critérios que nos colocam em uma posição de destaque ou de derrota. Um sistema de provas e notas que segue da educação até o mercado de trabalho. “Você precisa se provar, trabalhar mais duro que seus colegas. Se quiser ser alguém e ter sucesso tem que se sobressair”.
Comigo não foi diferente, também cresci neste sistema de crenças e logo estava moldado para ser um grande competidor, seja nos esportes que praticava ou nos projetos que me envolvia, na faculdade, no trabalho, eu queria estar entre os melhores.
Ao longo de 18 anos empreendendo, a vida me trouxe inúmeras situações e experiências que me levaram a novos caminhos e a novos pontos de vista. Hoje, posso afirmar que as soluções não estão na competição e em ser melhor que os outros. Percebo que as grandes soluções, as mais inovadoras, passam por valores opostos como cooperação, colaboração e compaixão. É muito mais sobre como eu me vejo no mundo do que como o mundo me vê.
Muitos contrapontos e insights chegaram a mim de fora do mundo dos negócios, a exemplo do Yoga, que me ajudou e me ajuda a ser não só uma pessoa melhor, mas também um empresário melhor, mais criativo e mais inovador.
Em 2016 fui introduzido ao Yoga pela minha esposa e um ano depois conhecemos o estilo que praticamos até hoje, o Ashtanga Vinyasa Yoga. Sua origem é bastante antiga mas ganhou forma e alcance global a partir da cidade de Mysore, na Índia. O Ashtanga é composto por diversas posturas (asanas) em sequência pré-definida, conectadas por movimentos de transição (vinyasas), por uma respiração constante (ujjayi) que agrega à prática, ao mesmo tempo, ritmo, aquecimento do corpo e um aspecto meditativo, entre outras técnicas como a de concentração através do olhar (dristhis), além do controle dos centros de energia vital (bandhas).
Outro grande atributo do Ashtanga Yoga é a autonomia, pois você é estimulado a aprender a série e a praticá-la no seu ritmo, permitindo que você possa realizá-la em qualquer lugar, o que tenho feito muito em casa, por exemplo, nestes tempos de quarentena.
Compilei abaixo alguns dos principais ensinamentos que pude perceber nesta minha trajetória, ainda inicial, com o universo do Yoga e que trago também para minha jornada empreendedora.
1. A competição é consigo mesmo.
A prática constante escancara as suas dificuldades, nos obriga a olhar para dentro de nós mesmos e perceber que existem defeitos e limitações a serem trabalhados, que algumas coisas precisam ser curadas antes de avançar ao próximo passo. Auto cura tem a ver com humildade e disciplina, praticar repetidamente até vencer as próprias barreiras, sem se comparar aos outros, cada na sua trajetória individual. As limitações devem ser honradas, respeitadas e acolhidas. No contexto de uma organização, há tanto a ser realizado e melhorado em termos de visão, cultura, gestão e inovação, que me parece perda de tempo e energia perseguir o que os outros estão fazendo. A originalidade está dentro e não fora.
2. A jornada é mais importante que o sucesso.
No Yoga, a jornada não tem um fim, não dá para zerar o jogo como nos videogames, a evolução é infinita. Cada conquista abre vários outros caminhos e aspectos a serem trabalhados, iniciando uma nova trajetória, o tempo todo. No entanto, o benefício da prática é imediato, ou seja, independente do que você deseja evoluir ou conquistar, basta praticar dando o seu melhor, que é estar presente, e o benefício virá na mesma hora para seu corpo, mente e alma. Fazer o melhor no presente é o grande desafio em vários aspectos da nossa vida, incluindo também o mundo dos negócios, tão cheio de metas, planejamentos e pré-definições do que é sucesso, que acabam por ofuscar as pequenas conquistas diárias e desvalorizam as trajetórias individuais, tão únicas e que formam as organizações e comunidade das quais fazemos parte.
3. Criatividade e Inovação são processos de melhoria contínua.
Não tem como você vencer os seus limites sem antes conhecê-los. A evolução ocorre pouco a pouco, mas constantemente, às vezes pode até parecer que não está acontecendo, mas basta olhar para trás e enxergar o quanto já evoluiu. Não há limites para o que você quiser fazer ou alcançar, basta praticar, praticar e praticar, todos os dias, buscando esta melhoria contínua. Para quem gosta de números, os ganhos são marginais, mas a evolução é exponencial. Em um ano, se evoluirmos 1% a cada dia, o quanto saímos melhor? A matemática explica: 37x melhor, em termos percentuais são 3.678% de ganhos.
4. Para o sistema funcionar, todas partes precisam estar em harmonia
Força, equilíbrio e flexibilidade caminham juntos, não adianta ser um só. E todos eles sem respiração não funcionam. Respirar é perceber, é dar o ritmo certo para as coisas. Parece até simples, mas normalmente as relações são baseadas em uma proporção descabida de força e autoridade através da hierarquia, com baixo teor de percepção, empatia e compaixão. Agravando este quadro, tentamos avançar sempre no ritmo mais acelerado, o que nos dá uma falsa impressão de estarmos produzindo muito, mas que deixam efeitos colaterais enormes nesta roda chamada humanidade, que deve ser mais harmônica e girar numa rotação menos vertiginosa.
5. Cuidar de si é cuidar dos outros.
Se você está mais equilibrado e feliz, provavelmente vai interferir positivamente naqueles que estão a sua volta. Este é o primeiro passo na construção de um sistema de cooperação e colaboração, onde as pessoas cuidam uma das outras de forma natural, sem tantas regras e procedimentos. Quando estamos preenchidos pela boa energia gerada por nós mesmos, podemos dar mais espaço para o outro pois não precisamos nos afirmar tanto ou nos colocar a toda hora para provar o nosso ponto.
6. A curiosidade é a raiz da sabedoria
A grande verdade é que somos eternos aprendizes, o que sabemos até agora é muito pouco frente às infinitas possibilidades de conhecimento que temos a disposição. O sistema atual nos tirou as perguntas, nos prometeu carreira, sucesso e nos colocou em caixas, para depois nos dizer que precisamos pensar fora dela. Só que estamos no meio de uma série de revoluções, onde não cabem caixas, não há fronteiras, não tem carreira. Tem a curiosidade constante de querer se mudar a cada dia, o pensar, o inovar, o criar. No momento em que paramos de perguntar, paramos também de aprender.
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Finalizo por aqui ressaltando que ainda preciso assimilar e reforçar muitos desses ensinamentos que o Yoga vem me trazendo, e que, além desses há tantos outros porvir, ainda mais simples, mais profundos. É uma jornada que está apenas começando mas que, com certeza me ajudou a ser uma pessoa melhor, mais criativa e mais inovadora.