O preço da conveniência

O que ganhamos e o que perdemos?

Por Paulo Martinez

📷 Love • Alexander Milov, 2015

Nos últimos trezentos anos, a conveniência se tornou o atributo mais desejado pela humanidade. Ela mobilizou milhões de empresas, bilhões de profissionais e trilhões de dólares mundo afora, prometendo mais tempo, espaço, conforto e menos esforço.

Nossa obsessão por conveniência permeou a produção, o consumo e a cultura, impregnando cada pequeno aspecto de nossas vidas. No entanto, apesar de tantas promessas, nossa relação com o tempo não melhorou; pelo contrário, deteriorou-se exponencialmente. Jogamos no lixo todo o tempo que, em tese, ganhamos.

Somos reféns da própria paixão por uma vida mais “fácil”, onde a magia do fazer se perdeu, substituída por uma enxurrada de coisas e afazeres. As artes, a filosofia e a conexão humana vão se dissolvendo nesse caldo cultural pós-digital. Como resultado, estamos submersos em uma avalanche de afazeres menores, mesquinhos e sem sentido.

Não foi só o tempo que jogamos no lixo. Descartamos também coisas — promessas em forma de objetos, rapidamente tornados obsoletos pela mentalidade de crescimento desenfreado e obsolescência programada. Tais promessas de conveniência, com durabilidade efêmera e utilidade questionável, alimentam um ciclo interminável de descarte e poluição, transformando a Terra em um subproduto de nossos excessos. Ao sermos constantemente insuflados com a nova coleção, com o maior e o melhor produto, estamos ficando obsoletos como espécie.

Para além do tempo e das coisas, jogamos fora o nosso bem mais precioso: a vida! Renunciamos ao viver genuíno, desistindo de criar, pensar, dançar e nos relacionar. Sacrificamos a (nossa) Natureza, adicionando coisas enquanto subtraímos vidas. Descartamos uns aos outros nesse grande lixão que criamos para nós mesmos, eliminando qualquer possibilidade de existência prosperar — inclusive a nossa.

O preço de tamanha obsessão por conveniência atingiu seu ápice, e nossa mochila está pesada demais. Isso não está apenas causando as diversas crises climáticas que observamos todos os dias, mas também desencadeando uma crise interna e existencial - possivelmente a maior de toda a história humana.

Conversando com líderes de diversos setores, percebo que essa conta chegou de forma avassaladora, também para o topo da pirâmide. Ansiedade, burnout e depressão se tornaram epidemias que ultrapassam barreiras de classe e status. A dita elite intelectual e econômica agora sente, mesmo que parcialmente, o vazio que há tempos consome a base da pirâmide. Com 8 em cada 10 trabalhadores estressados¹ e quase a metade enfrentando burnout², fica claro que uma vida repleta de coisas, mas vazia de sentido, cobra seu preço. A angústia é evidente, tanto interna quanto externamente.

É hora de reavaliar. Não se trata apenas de mudanças top down ou bottom up, mas de uma transformação coletiva. Transformar hábitos e conceitos enraizados há séculos não é fácil, mas é imperativo. Menos “tem que” e mais “vamos” – vamos dialogar, nos conectar e nos enxergar como uma única raça: a raça da vida.

Vamos reflorestar nossas mentes, invadidas pela monocultura do consumo, e resgatar nossa capacidade de viver de verdade. A vida, em sua essência, é muito mais do que conveniência.


Um convite para o movimento

Convidamos a todas as pessoas, líderes e não líderes, para esse bate-papo tão profundo e necessário sobre as nossas formas de ver e participar do mundo, que acontecerá nesta quarta-feira 28/08, com a nossa colunista Cris Improta.

Neste webinar, vamos explorar como os desafios da nossa era convidam a uma verdadeira metamorfose da mente, na direção de uma ecologia do pensar e do agir.

Contextos complexos exigem uma fidelidade da atenção e uma postura de experimentação. Qualidades com as quais temos pouca familiaridade.

Traga suas perguntas para essa investigação, que irá integrar uma abordagem filosófica e sistêmica para compreender e transformar contextos organizacionais, sociais e ambientais.

Cris se define como "artivista do pertencimento", facilitadora de processos de transformação pessoal e organizacional, com vivência de mais de 30 anos em consultorias estratégicas, é também criadora da abordagem Organic Coaching. Possui uma rica experiência em campos como Sustentabilidade, Sistemas Regenerativos, Pensamento Complexo e Fenomenologia Goetheana, além de ser amante das artes e da poesia. Em suas ideias e reflexões, Cris nos convida a uma abordagem filosófica e integradora da complexidade sistêmica aos contextos organizacional, social e ambiental.

Agende sua participação!

⟡ A live será transmitida em português (BR), no dia 28 de Agosto às 9h00 pelo LinkedIn do Innovation Roots


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